Pôster de Zezinho da Kirei pousado em balcão de salão de beleza
Rodrigo BertolottoDo UOL NotíciasEm São PauloMuitas pessoas acabam conhecidas por seu local de trabalho. E, de tão populares, adotam de vez o nome profissional quando se lançam na carreira política. João da Farmácia (PMDB), Zeca do Táxi (PTN), Betão do Lava-Rápido (PMDB), Carlão da Padaria (PSL) e Della do Ferro Velho (PTN) são alguns dos nomes de urna dos candidatos a vereador de São Paulo.
Outros vão até mais longe e colocaram a marca de suas empresas em plena urna eletrônica. É o caso de Ana Lúcia Gonçalves, cujo nome de urna é Ana da Imobiliária Trevo (PRP). Ela já foi conhecida como Ana do Ovo, afinal, vendia dúzias deles até o Plano Real, em 1994, quando as pessoas pararam de estocar o produto para driblar a inflação. Na mesma lojinha encravada no meio da Cohab 2, ela mudou de ramo e passou a alugar e vender apartamentos no conjunto habitacional. Agora, Ana quer virar política, mas já vê vantagem para a empresa com sua campanha eleitoral. "Toda a propaganda vai bem. O cliente vira eleitor, o eleitor pode virar cliente", sintetiza a comerciante, que está otimista. "Há mais de 40 mil votos por aqui. Vou me eleger", calcula.Outro que se vê eleito e sua empresa ganhando fama é Gil da Ultra-Som (PSC), que leva o nome de sua loja de som automotivo na Penha. "Quando terminar a apuração e eu for um dos vereadores, todo mundo vai querer saber o que é a Ultra-Som", se entusiasma.Todo final de expediente, ele sai com seu carro emitindo desde o porta-malas seu jingle pelo bairro (um trecho diz "Gil é um cara legal"). Mas o candidato não exagera no volume para não afugentar possíveis eleitores. Poderia usar a picape transformada em trio elétrico que um cliente encomendou para anunciar produtos. "O trabalho ficou bom, mas seria muito barulhento", justifica.Outro candidato do ramo é Paulo Roberto Varotti. Seu nome de urna é Paquera (PMN), em referência ao comércio de som e acessórios. "Quando abri a loja, pensei em uma marca diferente. Paquera pegou. Espero que dê sorte na política também", afirma Varotti, que em 2004, sua primeira aventura eleitoreira, teve apenas 2.508 votos. Ele, porém, diz que não usa nada de sua firma na campanha. "É só no corpo a corpo", diz Paquera, que atua na Zona Norte da cidade.Outro com a palavra "som" no nome de urna é Antonio Delbucio. Ele, porém, parece mais empolgado com sua casa de baile no Tatuapé que com sua candidatura. Tonhão da Som de Cristal (PDT) ficou desgostoso quando seu partido desistiu de lançar Paulinho da Força para prefeito e apoiou Marta Suplicy (PT). "Se eu trabalhasse, seria eleito. Mas tenho que me dividir com as atividades aqui", se queixa Tonhão. A Som de Cristal original era uma gafieira na rua Rego Freitas, no centro paulistano, endereço que virou bingo em 1996. "Era ao lado do sindicato dos jornalistas. Conheci muito de seus colegas da velha guarda. Era uma boêmia maravilhosa, tinha Jamelão, Ângela Maria e Nelson Gonçalves", fica saudoso.Hoje, seus bailes no Tatuapé terminam às 23h e são embalados pela banda Imagem e pelo Garcia Music Show. "Aparece aí uma hora no clube. Pega a programação", estica o braço para dar o folheto com as matinês de setembro.Wander da Lig Moto (PV) é mais um exemplo de candidato-empresa. Ele diz que foi um dos primeiros motoboys de São Paulo e montou uma das empresas pioneiras do setor. "A única sócia é minha mulher. Ela teve que concordar com o nome de urna, afinal, fui eu que criei a marca. Até tatuei no meu braço", confessa Wander.Ele crê que será eleito. "Naturalmente vai ser uma promoção para a empresa", diz o candidato. Wander, contudo, pretende não usar marca na próxima contenda. "Tenho mais pretensões. Quero ser deputado estadual, federal. Não fica bem entrar nessas esferas com esse nome", argumenta o candidato que diz defenderá a categoria e que sua empresa é "um ícone dos motoboys".Também célebre em seu ramo é Zezinho da Kirei (PV), dono de um salão de beleza, escola de cabeleireiro e de loja de móveis especializados. "É um nome japonês forte, ajudou no meu ramo. Vai ajudar na política", acredita. Entre as clientes e os espelhos, lá estão os cartazes com o rosto e o número do candidato no meio de outras fotos, mas estas de modelos com cabelos mais pedidos pela freguesia. "Entrei na política por ficar revoltado com o que acontece", desabafa.A lista inclui ainda Beto do Mercado Legal (PSC) e Chiquinho Automóveis (PTB). Mas nenhum dos candidatos paulistanos chega ao inusitado de José Barreto Tomaz, que se apresentou em Belo Horizonte pelo PHS. Seu nome de urna é Tomaz da Desentupidora Rola Bosta, empresa que fundou há sete anos na cidade. Ele diz ter mais de 2.000 fregueses, mas nas eleições de 2004 recebeu apenas 302 votos.